Leituras de Janeiro
Após um extenso período sem produzir nada para o blog, peço desculpas e tento emplacar alguma sequência e quadros novos para nosso espaço. Nessa toada, vou comentar e avaliar sobre os livros que tenho lido.
Uma característica minha importante de se mencionar é que procuro sempre variar os gêneros e temas na minha lista de leitura. Não gosto de repetir assuntos nem formatos. Vou colocar isso em todas as postagens, pois influencia, acredito que positivamente, a reunião dessas obras.
1- PESSOAS NORMAIS, de Sally Rooney
Muitos, assim como eu, devem conhecer a obra pela adaptação em forma de série, que veio ao mundo, e no Brasil, com seu nome original, "Normal People". Esse fator, querendo ou não, tem muita influência sobre a minha opinião com o livro.
Ele traz toda a trajetória da relação de um casal/não-casal/amigos. Do final do Ensino Médio até o começo da vida profissional de Marianne e Connor. Os dois moram em uma pequena cidade na Irlanda e a mãe do rapaz trabalha na cada da garota. Na escola, ela é excluída e muitas vezes ridicularizada pelos alunos populares, grupo do qual ele faz parte. E, secretamente, os dois iniciam uma relação, que só acontecia realmente nos encontros sexuais que eles mantinham e cada vez mais aumentavam a frequência. A partir daí, os dois vão a mesma faculdade, iniciam um namoro sério e oficial, terminam, passam férias juntos, brigam, voltam, mas sempre como amigos e com uma compreensão única sobre o outro.
O fato de ter assistido a série antes me deixou em dúvida quanto aos pontos da trama que seriam mais detalhados e aprofundados. E é muito interessante pois a autora, ao descrever uma situação, busca muito mais acessar os sentimentos e motivações dos personagens do que uma descrição completa do ambiente e contexto geral.
É uma leitura jovem, mas com ritmo e muito bem escrita. Comecei pouco antes o ano-novo e terminei logo na primeira semana do mês.
2 - O IRLANDÊS / I Heard You Paint Houses, de Charles Brandt
Mais um livro que foi adaptado para o audiovisual, dessa vez por ninguém mais ninguém menos que Martin Scorcese. Ele teve a difícil missão de contar uma história com meandros políticos muito pouco triviais.
A saga de Frank Sheeran, praticamente um matador de aluguel, que ao longo da sua vida prosperou na máfia, apoiado pelo amigo Russell Bufalino, e depois se aproximou de Jimmy Hoffa, líder político dos caminhoneiros e que nunca teve seu assassinato solucionado. Até então. A publicação do livro, além de uma biografia de Sheeran, variando entre depoimentos do próprio e de contextualizações feitas pelo autor, foi o último ato do Irlândes ao confessar que matou Hoffa, com todos os detalhes e motivações explícitas.
A leitura melhora muito conforme se desenvolve. Por mais que seja interessante e importante para um retrato final do personagem saber de sua origem, principalmente sua trajetória no exército e na guerra, o livro pega fogo conforme as páginas passam. Quanto mais eu comia, mais me dava fome. Os detalhes e a explicação do autor para esse universo político, que nós brasileiros não estamos familiarizados, não deixam dúvidas, ao contrário, instigam ainda mais o leitor.
3 - O INSPETOR GERAL, de Nikolai Gogol
Essa peça de teatro, publicada pela primeira vez em Maio de 1836, parece um retrato fiel de como as relações de poder apodrecem e ficam comprometidas desde sempre.
Em uma cidade longe da capital russa, o poder público fica em alvoroço quando recebe a notícia de que um inspetor geral irá visitar o local. Eles passam a agradar e oferecer dinheiro e tudo do mais luxuoso para o sujeito, visando uma boa avaliação. No entanto, o homem paparicado na verdade não era o inspetor geral, sim um farsante que se aproveita da situação para obter o máximo que puder.
A ironia do texto segue muito atual. Além de ser curta, a peça consegue ser muito clara sem ser óbvia. A previsibilidade do final está lá, mas não apaga as risadas e a boa construção da trama.
4 - O PROTOCOLO RUSSO, de Grigory Rodchenkov
Por último, mas não indiferente aos outros, mais um livro que teve sua história contada nas telas de cinema, através do documentário "Icarus", vencedor do Oscar. No livro, o autor, antigo diretor do laboratório anti-doping russo, conta todo a sua história no ramo, detalhando todo o esquema de fraude coordenado por ele nas olimpíadas em que o país participou, até a delação dos crimes e o exílio nos Estados Unidos.
Por mais que seja uma história longa, o autor consegue condensar isso, desenvolvendo apenas as partes mais importantes para o esquema e para o esporte como um todo. Ele não deixa de mencionar os outros participantes do esquema e contar todos os detalhes, científicos e criminais. Por mais que ele em nenhum momento fuja da culpa, e até relembre o orgulho que sentiu quando realizou as trapaças homéricas, Rodchenkov o tempo todo critica os parceiros de crime. O que beira um pouco a hipocrisia e a incoerência. No entanto, o recorte jornalístico é de muito valor, visto a dimensão do que é relatado. Até quando ele nos conta sobre sua vida pessoal e o cotidiano na Russia, o livro oferece um conteúdo no qual não estamos acostumados encontrar.
Boa leitura, dinâmica e muito interessante para quem é aficcionado por esportes. No entanto, o documentário já cumpre um grande papel em apresentar essa história.
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